Pesquisa apoiada pelo Governo do Amazonas analisa adaptação de organismos aquáticos em cenário de mudanças climáticas

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Por Redacao

Estudos do INCT Adapta preveem impactos econômicos e sociais na região amazônica

FOTO: Tiago da Mota e Silva/Inpa e Nathalie Brasil/Fapeam

Entender quais são as formas de adaptação da biota aquática da Amazônia em relação aos desafios ambientais, incluindo aqueles causados pela ação do homem, é o objetivo de um conjunto de pesquisas desenvolvidas no âmbito do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Centro de Estudos de Adaptações Aquáticas da Amazônia (INCT Adapta), apoiadas pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Os estudos têm avaliado como diferentes organismos aquáticos da região enfrentam a questão das mudanças climáticas.

Coordenado pelo doutor em Biologia de Água Doce e Pesca Interior, Adalberto Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o INCT Adapta coleta informações relacionadas aos aspectos bioquímicos, fisiológicos e ecológicos desses organismos em ambientes aquáticos, entre espécies de peixes, plantas aquáticas, invertebrados e microrganismos sob condições experimentais específicas em laboratório.

“Conhecemos muito pouco sobre a Amazônia, e acredito que esse projeto contribui de forma marcante para o conhecimento daquilo que a gente não vê. Conhecemos várias espécies de peixes e insetos, e florestas, mas o que está por trás disso? Como os organismos se adaptam às águas do Rio Negro? Como enfrentam os baixos teores de oxigênio?”, questiona Adalberto.

Segundo o pesquisador, não se pode generalizar a resiliência da biota aquática aos diversos distúrbios ambientais. Ele afirma que várias espécies de peixes, por exemplo, são capazes de sobreviver a condições extremas de oxigênio ou de PH, enquanto outras não. “Qualquer aumento de temperatura no ambiente pode ocasionar uma extensa mortalidade de peixes, como aconteceu na última seca aqui na Amazônia”, destaca Adalberto.

No projeto, o grupo de pesquisa identificou que o tambaqui, por exemplo, pode chegar a ter 40% de modificações esqueléticas em cenários intermediários e drásticos de mudanças climáticas, previstos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além disso, foi possível verificar também o número de gerações do mosquito do gênero Anopheles, conhecido por transmitir o parasita da malária aos seres humanos, que também deve aumentar de forma significativa.

De acordo com o pesquisador, as pesquisas realizadas no INCT Adapta também se destacam pela estrutura de trabalho, com o uso de equipamentos modernos, a construção de um serviço de bioinformática; e banco de dados biológicos, ambientais e moleculares.

Os projetos de pesquisa contam com o auxílio de quatro salas climáticas, que simulam diferentes cenários de mudanças climáticas em termos de temperatura, concentração de CO2 e umidade. A Sala 4, que abriga a maior parte dos experimentos, simula o ambiente mais extremo, com uma temperatura 5ºC mais quente do que a medida atual em Manaus.

FOTO: Tiago da Mota e Silva/Inpa e Nathalie Brasil/Fapeam

Recursos humanos qualificados

Uma das outras prioridades do projeto é a capacitação profissional envolvendo o ensino, a pesquisa e extensão, somando 388 formações entre 2017 e 2024, sendo 154 iniciações científicas, 25 mestrados, 86 doutorados, 62 pós-doutorados, bem como 61 formações em outras modalidades.

Os estudos têm gerado também importantes subsídios no desenvolvimento de políticas públicas, especialmente relacionadas à proteção da floresta amazônica e dos ecossistemas aquáticos, e a garantia da qualidade da água, como afirma o pesquisador. No que diz respeito ao conceito de classificação das águas, o INCT Adapta propôs uma mudança no processo de identificação, levando agora em consideração não apenas o aspecto físico como a cor e a densidade, mas também características químicas e biológicas.

“É necessário entender que os efeitos das mudanças ambientais têm impacto direto na saúde das pessoas, e que a ciência deve gerar conhecimento com o objetivo de planejar alternativas no enfrentamento dos desafios ambientais”, disse.

Ele pontua que as informações reunidas no projeto podem contribuir não somente para a restauração de ambientes degradados, mas também na inclusão social e crescimento de renda. São vários estudos em andamento, dentre eles: o desenvolvimento de um projeto baseado no sistema chamado wetlands, estações ecológicas de tratamento de água; pesquisas de manejo sustentável do pirarucu; e pesquisa sobre a tecnologia de bioflocos na área de aquicultura.

Em um cenário de crescente preocupação quanto à transmissão de doenças tropicais, e o impacto na economia a exemplo da diminuição das taxas de crescimento dos peixes em pisciculturas, os dados reunidos pelo INCT Adapta são relevantes para a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Sobre o INCT

O INCT Adapta é apoiado pela Fapeam, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e parte do programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT).

O projeto analisa como diferentes grupos de organismos aquáticos se comportam diante das mudanças ambientais. Durante as pesquisas são monitoradas as chamadas espécies sentinelas, que podem atuar como indicadores de saúde dos ecossistemas. Além disso, são gerados biomarcadores, que auxiliam no acompanhamento da qualidade dos ambientes aquáticos.

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